Ponto de Partilha - Fábio Brazil

Fábio Brazil
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ORIGINAIS NA EDITORA

Fábio Brazil
Publicado por em recentes · 9 Outubro 2019
Olá. E como diz o título, os originais do livro de poesia foram entregues. Ainda voltam a mim uma ou duas vezes, há tempo de me arrepender. Após 08 de novembro, dia do lançamento de Ponto de Partilha, não haverá mais tempo.  A poesia que fui colecionando, será embalada em livro e entregue a quem a quiser. Fica aqui o convite. 08 de Novembro, 20h no Caleidos.

É uma sensação estranha. Acreditem.
 
Claro que estou feliz, claro que é um prêmio – e é mesmo, ProAc da Secretaria da Cultura do Estado – claro que há uma certa apreensão misturada com excitação e que se traduz numa sensação muito boa. Mas tem algo de estranho nisso tudo.

O problema de publicar pouco, ou de esperar muito para publicar o pouco que se escreve, é que o livro resultante ganha uma dimensão imensa.  

O primeiro e maior desafio foi enfrentar esse segundo “pouco”. Eu escrevo pouco. Nunca fui caudaloso. Nem em tamanho ou quantidade de poemas. Já tive vontades vencidas de ser mais profícuo, mas como alguém já disse: poesia vem quando quer, e para mim, como quer. Desse modo, a coleção de poemas que juntei, não é tão grande como poderia sugerir a ideia de “30 anos” que ficou associada ao projeto vencedor do prêmio, “Ponto de Partilha, 30 anos de poesia”.

Quando fui selecionar e organizar os poemas para a publicação, assustei. Deveria haver mais. Atacou-me uma sensação de “só isso”, um arrependimento de não haver escrito mais sobre tanta vida vivida ou desvivida que tive. Essa sensação contribuiu para o estranhamento de que falo.

Outra questão é que publicar pouco pode criar um tanto de falsas expectativas. Pode ser que os amigos próximos esperem algum “grande tesouro” de tão guardado e por tanto tempo...  e como serão eles o primeiro e talvez único público a ser atingido pela publicação, fico aqui eu ruminando com meus botões de insegurança.
 
Bem, são amigos, já devo tê-los decepcionado de outras formas.

A escolha do que publicar também não foi fácil. Tentei fugir. Tentei terceirizar. Acreditei que outra pessoa poderia fazer. Falei com duas pessoas, bem sabidas e entendidas em poesia. Não se animaram, não insisti. Desisti. Uma delas me perguntou se seriam uns 500 ou 600 textos, outra sugeriu que eu deveria me resolver na prosa antes, para me sair melhor no desenrosco com a poesia. Ambos estavam certos e errados ao mesmo tempo. Sim, deveriam ser 500 ou 600 poemas para escolher quais publicar – não são, não foram. E, sim, eu já caminhei pela publicação de prosa com mais vigor que pela poesia, e talvez terminando o romance que abandonei ao receber o prêmio de poesia, alguma sensação de ordem – interna e externa - sugerida pela prosa ajudasse a organizar o material poético. Não voltei o romance.  Hoje agradeço às duas pessoas por me mostrarem que essa escolha só poderia ser feita por mim.

Mas como organizar? O que escolher?
 
A primeira conversa com o editor – Eduardo Lacerda da Patuá – foi muito esclarecedora em decidir o que não iria publicar. Após a conversa, decidi que deixaria os poemas ligados aos espetáculos de dança e os poemas com apelo mais visual de fora dessa primeira publicação. Foi uma decisão importante. Traçou fronteiras e limites onde nunca houve. Criou divisões e organizações onde não havia. Por outro lado, deixou de fora dessa publicação a parte mais conhecida do que escrevo, a parte que conseguiu atingir um círculo um pouco maior do que os amigos mais próximos. A poesia visual se espalhando pela rede social, especialmente pelo instagram ( @fabio_brazil ) e a poesia que caminha com a dança seguindo o passo do Caleideos Cia.  
 
Para o livro  Ponto de Partilha escolhi a poesia em verso, mais recatada em termos de forma e mais desvinculada de projetos fechados como as que servem de dramaturgia para a dança. São poemas escritos por mim nos últimos 30 anos. A ligação entre eles é um fluir interno que me sugeriu a leitura deles em conjunto. Descartei a ideia de sequência cronológica ou alguma organização temática.

A cronologia seria tão difícil quanto inútil. Difícil porque muitos dos poemas nasceram em cadernos e migraram de computador em computador e foram modificados e revistos tantas vezes que a data de origem pouco acrescentaria e ainda poderia sugerir uma falsa ideia de progressão ou direção ou destino ou busca que não existe em absoluto. Uma organização temática poderia fixar leituras e forçar entendimentos que ao final, serviriam a quem?

Optei pela ilusão de acreditar que consegui um tipo de acordo com os poemas, deixar que um poema convocasse o próximo. E por semelhança, contraste, sintonia de sensação, complemento ou mudança de foco, o livro foi nascendo e se “auto organizando”. Essa escolha tem a ver com motivo último dessa publicação. Eu devia isso aos poemas.

Alguns estão há tanto tempo comigo, já me abrigaram de tantas incertezas e procuras, que publicá-los é uma forma de retribuir a eles o que fizeram por mim. Estando comigo por tanto tempo, cuidando para que eu me reconhecesse em mim, hora de crescermos. Hora dos poemas tomarem seus caminhos, mesmo que seja chegar apenas até a estante de livros na casa dos amigos.

O estranhamento de que iniciei falando, é esse. A gaveta está vazia, os poemas chegaram ao ponto de partilha. Bem-vindos ao desembarque.



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